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Not Shoujo Boy - 01

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Capítulo 1 – Rabiscos

Em meus sonhos, eu sempre desejei ser uma escritora, porém, não é como se o meu desejo fosse algo tão possível assim de acontecer. Eu gosto bastante de livros, e de escrever também, mas esta sala lotada de papéis vazios é o melhor exemplo de que eu não consigo sequer escrever algo, sim, nada sai da minha mente sai, nem muito menos um raio de esperança ou alguma inspiração.

"Mas, que coisa!!!!"

Eu gritava comigo mesma. Talvez fosse somente o ápice do meu desespero por gastar tantas noites em um sonho que parecia impossível.

"Por que eu não consigo escrever nada? Por quê?!"

Você pode pensar que sou somente mais uma adolescente de 16 anos atrás de um sonho de sua juventude. Mas, não, desde pequena eu sempre fui fascinada por livros e por aqueles que os escreviam. Meus pais sempre me deram todos os tipos de livros, e assim, sempre nutri o desejo de construir o meu próprio mundo, minhas próprias aventuras, os meus próprios sonhos.

"Mas, no final das contas eu não consigo fazer nada..."

"Ei! May, a comida está na mesa!"

As palavras de minha mãe remetiam a uma tradição familiar. Ah, eu me esqueci disso, eu me chamo May Flenders, um nome estranho não? Culpem os meus pais e suas manias literárias. Eu sou a segunda filha de uma família de 4, incluindo meus pais, claro.

"Eles não publicaram nada meu hoje."

Esse era o meu pai, os seus cabelos já grisalhos demonstram que a vida de jornalista não é nada fácil, e minha mãe bem, ela era aparenta ser bem mais jovem, por volta dos 28 anos, mas talvez ao contrário de meu pai, ela é bastante feliz sendo uma crítica literária.

"May, você deveria comer a alface também."

"Mas, o Byron não come!"

Dizia eu em reclamação contra as manias vegetarianas de minha mãe. E, ah claro, Byron é o meu irmão mais velho, ele não mora mais conosco, após ter passado para a faculdade de Medicina, ele viajou até a cidade ao lado, e bem, as coisas andam um tanto solitárias sem ele por perto.

"Aliás, May, como andam seus estudos?"

Ah, e lá vai o meu pai começar com suas entrevistas. Isso foi se tornando algo comum após o meu irmão passar em um vestibular bastante concorrido, o que de alguma forma transformou a minha vida estudantil em uma grande expectativa. O fato de termos sido criados da mesma forma sempre originou uma grande esperança deles sobre mim.

"Bem, eu..."

Eles podem ter nutrido meu sonho, mas no final das contas, também são pais.
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"E aqui eu estou de volta ao meu mundo do nada."

E voltando ao tópico anterior, eu sinto que sou uma garota um tanto vazia, enquanto eu vejo minhas amigas se divertindo com os cantores pops, ou mesmo com roupas extravagantes, eu me encontro vestindo uma bermuda e uma camisa qualquer. E, além disso, eu ainda conservo esse sonho tolo de um dia ter um livro publicado.

"Você é uma romancista!"

Essas eram as palavras da minha melhor amiga, Jennifer, por algum motivo ela se interessava em mim, e dizia que no final das contas eu não passava de alguém que vivia em uma época passada, mas...

"Qual a graça se fôssemos todos iguais?"

Eu sou somente uma garota normal, com hábitos normais, com uma vida normal e um sonho normal. Não há nada de estranho nisso, há?

"Okay. Eu assumo."

Sim, eu assumo, enquanto as garotas que me rodeiam preferem viver suas vidas segundo o que a sociedade nos determina, eu tenho um segundo sonho, mais bobo, tolo, egocêntrico, vazio, ou até mesmo infantil de minha parte.

"Eu ainda sonho com príncipes, príncipes encantados."

Era o que soava em minha mente, e no final das contas era a realidade sobre a garota chamada May, uma jovem de 16 anos que ainda vive em uma época medieval esperando por seu príncipe encantando. Enquanto se veste como um patinho feio à espera que ele a encontre no topo do palácio, presa por um rei cruel que desejava casar com ela a qualquer custo.

"Mas, isso é clichê demais."

Sim, quem quer que esteja lendo esses recados, não seja iludida pelos meus sonhos. Eles não se tornaram realidade em momento algum, em época alguma e lugar algum.

"Ah, sim!"

Como se todas as lâmpadas de minha mente fossem ligadas em um único momento, eu me lembrei de que quando pequena havia escrito um conto sobre um príncipe. Eu bem que poderia refazê-la, isso seria ótimo, ainda lembro que era algo que ninguém jamais pensaria, mas...

"Quantas décadas eu vou levar para achá-la?"

A montanha de caixas encostadas no canto de meu quarto com diversas anotações e outros itens de minha infância não era nada animador. Tudo bem, eu não preciso dela.

"Eu não preciso..."

Deitada sobre minha escrivaninha lotada por papéis, eu somente deitei minha cabeça, para então repetir minhas últimas palavras em um tom sonolento, enquanto uma inesperada lágrima percorria o meu rosto, apesar de não ter tempo suficiente para saber o porquê daquilo.
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Como qualquer adolescente de minha idade, eu estava presa em mais um daqueles infinitos horários de aula, embora fosse exatamente nesses momentos que eu usava desse tempo para pensar em algumas coisas, desde contos até o fato de nosso professor aparentar usar peruca.

"May, ei May..."

Ao meu lado, Jennifer me chamava aos sussurros. De fato nos conhecíamos há muito tempo, desde o primário, mas eu sempre odiei o fato de que ela tinha a mania de me chamar do nada para falar de assuntos como o passeio com o seu cachorro.

"Pra você."

Ela repentinamente me entregava um pedaço de papel, provavelmente destacado de algum caderno. E, espere...

"UMA CARTA DE AMOR?!"

Meu grito fez com que toda a turma voltasse a sua atenção para a última carteira junto à janela.

Todos os olhares se depositaram em mim, e se minha face já estava totalmente vermelha graças aquela carta, ela agora se tornava um pimentão vivo, tamanha vergonha eu sentia.

"Bem, nessa equação o valor de X..."

Eu nunca gostei tanto do meu professor de matemática quanto agora, e naquele breve momento que todos voltavam a olhar para o quadro, eu respirei e comecei a ler em minha mente o conteúdo daquela carta.

"Olá May, provavelmente você não me conhece, e eu sei que você não presta atenção em nenhum outro garoto de nossa turma. Mas, desde que eu estudo com você, eu venho desejando dizer algo, por favor, encontro-me no ginásio após o término das aulas, hoje não haverá nenhum clube lá, então poderemos conversar melhor. Assinado: o seu misterioso admirador."

Não podia avaliar quem de fato era a pessoa que me enviou isso, e por algum motivo no fundo, eu estava feliz.

"O que é isso? Será que as palavras me atingiram tão forte? Mas, eu nem conheço ele, então, o que é isso?"

A minha mente estava uma bagunça, algumas horas antes eu estava simplesmente me sentindo frustrada com o fato de não conseguir pensar em nada interessante para escrever, e agora? Eu estou feliz por ter um admirador? Será que eu estou simplesmente desejando que seja ele o meu príncipe?

"Eu não sei... mas..."
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No final das contas eu decidi ir até lá. As aulas que se seguiram foram todas mornas, tirando claro, literatura, minha professora é uma pessoa amável.

O seu aspecto excêntrico e o casaco roxo que ela sempre usa dão um tom diferente em suas aulas, apesar de que eu sou a única pessoa a prestar atenção nelas.

"Para a próxima aula, todos, por favor, tenham lido Iracema, certo?"

Poucas pessoas davam atenção aos dizeres dela, e já com o toque do último horário a maioria dos alunos já se encaminhava para a saída ou para o pátio do colégio.

"Bem, vamos lá."

Determinada a saber quem era a pessoa que havia escrito aquela carta, eu logo me dirigi ao ginásio. Como haviam me informado quase não havia ninguém lá, e pela placa que estava grudada no corredor ali próximo, realmente parecia que não haveria ninguém naquele dia.

"Ginásio fechado para reforma."

Pensativa, logo me vinha à idéia contrária.

"Talvez, seja melhor não ir."

"O que eu estou fazendo é claro que não há nenhum príncipe."

Um momento de silêncio decorreu desde então, eu não sabia o que eu deveria fazer agora, ao mesmo tempo em que parte de mim me dizia para ir até lá, outra dizia que não havia ninguém lá. Seria esse o momento que eu sempre esperei para escapar desse mundo chato, e, enfim poder abrir o meu próprio livro de contos?

"Que seja."

Sim. Eu não tinha muito que perder, e muito menos o que ganhar ali, então eu decidi ir até o local do encontro, talvez ele fosse uma ótima pessoa, e talvez eu encontrasse um grande amigo.

"Não há ninguém."

Exato. Eu estava ali, e não havia ninguém. Nenhuma sombra e já se passavam meia hora desde que eu havia chegado ao centro do ginásio. Tudo que eu podia ver era um ginásio completamente vazio.

"Eu sou uma idiota."

Porém, no momento em que me virava rumo à saída do ginásio, meu coração começou a ficar apertado, e logo a alguns metros de mim eu pude presenciar um de meus colegas. Ketsura, ou era assim que ele gostava que o chamasse, ele era um tipo de garoto que 99% das garotas daquele colégio desejavam.

"Foi voc-"

Eu não tive tempo para lhe perguntar, atrás dele, eu pude notar o som de diversos passos, juntamente com várias e altas risadas. Inúmeras pessoas seguiam o garoto e pareciam se divertir muito com aquela cena.

"Haha. Eu não achava que ela iria acreditar!"

"Nossa, como alguém da idade dela pode ainda ter esse tipo de ideia idiota?!"

"Sério? Que garota idiota!"

Não era meu costume odiar pessoas, pelo contrário, eu sempre tentei evitar qualquer tipo atrito com alguém, mas por algum motivo em meio aquilo tudo, eu sentia nojo de todas aquelas pessoas.

"Ei, Jennifer, olha só ela, como é idiota."

Talvez aquilo fosse somente a cereja do bolo. Em meio aquela multidão estava a minha melhor amiga. Todos rindo e rindo.

"Se esse é o mundo em que eu vivo, então eu prefiro os meus livros."

Era a única frase possível em minha mente.

"Não leve eles tão a sério, venha cá, eu sei que você gostou da carta."

Ketsura como realmente aparenta ser, simplesmente ignorou toda a humilhação que me rodeada e se aproximou de mim. Talvez fosse somente para ter mais uma no seu ranking de conquistas, ou talvez para me humilhar mais ainda. Mas, não, eu não aceitaria aquilo...

"Segundo o artigo 2º do reino Frioland, parágrafo 5, inciso XII. Com texto aprovado durante a quinquagésima guerra contra o Império de Lolizan, em Agosto do 5º ano lunar de nosso mundo."

"Eu já escutei isso..."

Sussurrava para mim mesma, enquanto observava que a multidão parava de rir, e todos que me rodeavam começavam a parecer surpresos. Talvez fosse algum professor? Mas, aquele texto...

"Quem é?"

Todo o aglomerado atrás de Ketsura começou a se movimentar de modo que alguém pudesse descobrir de quem era aquela voz.

"Dessa forma, cabe aos soldados do reino impedir que qualquer tipo de mal seja empregado a qualquer cidadão. Tendo dito isso, eu espero a sua compreensão e..."

Quando eu finalmente decidi ver quem era o dono daquele estranho discurso, eu somente pude perceber a sombra de algo sendo arremessado perto de mim.

"Esse cara é maluco, corram!"

As pessoas que estavam ali começaram a correr rapidamente, deixando para trás o único deles que havia sido atingido por algo,

"Mas, o que foi aquilo?"

Em um primeiro momento eu não sabia ao certo quem havia sido jogado ao chão, mas logo quando a curiosidade tomou conta de minhas ações, eu somente pude constatar o corpo de Ketsura estirado no chão, com uma cara no mínimo engraçada, apesar de claramente estar com a boca sangrando.

"Você está bem senhorita?"

Eu ainda não sabia quem era o meu salvador, mas a sua voz me impressionara naquele instante, eu não sabia realmente quem era, mas meu coração disparava em poucos segundos, pelo simples fato de saber que ele estava ao meu lado. Mas, o que é isso?!

"Obrig-"

Quando juntei coragem suficiente para agradecer ao homem que me salvara de um evento humilhante, eu perdi totalmente as minhas palavras.

"O que foi?"

O que foi? Eu que lhe perguntava, pois diante de mim estava um homem alto de quase 2 metros, com um olhar de quem não dorme há dias. Mas, não era isso que me surpreendia, e sim o fato de que aquele homem usava um elmo medieval que só tinha espaço para os seus olhos, enquanto vestia uma camisa branca qualquer com os dizeres "I Love Metal" e uma calça jeans qualquer de 1,99. Além de... chinelos?!

"Ah, sim, desculpe-me"

O homem guardava uma espada em uma bainha, espera! Nisso tudo eu não tinha notado que ele também trazia consigo uma espada medieval, mas espera quem raios é esse cara?!

"Você está meio pálida, tem certeza que não está com febre?"

Eu não tinha palavras, aquele homem estava brincando com a lógica. Estamos em um colégio, você não notou isso?!

"Sinto que eu estou esquecendo algo"

Ele não era somente estranho como também despreocupado, embora não vestisse luvas algumas, ele coçava o elmo como se estivesse a fazê-lo em sua cabeça.

"Ah, sim, agora que eu lembrei!"

"O qu... O quê?!"

A minha voz saia um tanto gaguejada, talvez fosse pelo fato de não ser acostumada a conversar com algum aluno que trazia uma espada e se vestia como se a era medieval tivesse ocorrido em um show de rock.

"Eu preciso de sua ajuda, mas antes..."

Um breve suspense ocorreu entre nós, e o homem colocava a mão no bolso de sua calça. Eu não sei o que sairia dali, mas por algum motivo eu já esperava de tudo um pouco.

"O que está fazendo?"

Eu novamente me enchia de coragem e perguntava a ele, que agora segurava algumas chaves em sua mão. E então colocava uma delas em alguma parte do elmo que eu não podia enxergar.

"Só melhorando as coisas."

A parte de frente do elmo era erguida por ele, e deixava a mostra um belo rosto, assim como alguns fios de cabelo que caiam sobre a sua testa. Por um momento, vislumbrando algumas lembranças vagas, eu sentia que já havia visto aquele rosto em algum lugar. Talvez ele fosse o meu príncipe.

"Bem..."

O misterioso homem começou se aproximar de mim, e logo deixou apenas alguns centímetros entre nossos rostos. Eu não entendia muito bem, mas aquela repentina aproximação deixava minha respiração um pouco ofegante.

"O que você quer?"

Perguntava curiosa.

"Você..."

Ele se aproximava ainda mais, e isso começava a deixar minha face corada. Eu não sei o que ele queria, mas ao mesmo tempo eu sabia que não poderia contê-lo.

"Eu?"

"Você sabe onde eu guardei o meu mecha?!"

Assim como a cor da camisa dele, o meu rosto se tornou pálido, não de medo, mas surpresa pelo comentário dele. Eu não sabia de onde aquele sujeito havia saído, e também não tinha a mínima noção de como a minha vida iria mudar a partir daquele encontro.
Nome: Not Shoujo Boy
Gênero: Fantasia. Comédia. Ação. Drama. Romance.
Sinopse: May é simplesmente uma garota que deseja se tornar escritora, e ainda nutre um desejo que muitas garotas de sua época nem cogitam: o de encontrar um princípe encantado. Em meio as suas tentativas frustadas de realizar ambos os sonhos, May acaba caindo em uma brincadeira de um grupo de colegas, e quando tudo parecia convergir contra ela, May é salva por um estranho princípe que, apesar de incomum, traz consigo lembranças de um passado que ela já esqueceu.
E o seu estranho salvador não somente deu uma esperança de momento a garota, como abriu o livro de fantasias escondido no seu coração.
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